Por Tiago Machado de Jesus
O filme do renomado fotógrafo e jornalista italiano Massimo Mazzucco, “O Novo Século Americano” em cartaz nos cinemas da cidade, pode ser visto como o ponto culminante de uma série de documentários anteriores, de diferentes diretores, que buscaram analisar os reais motivos da implosão controlada das torres do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Como influência direta, com “estética” e temática semelhante, poderíamos citar filmes como “Zeitgeist” ou “Loose Change”. Todos estes documentários baseiam suas investigações em imagens e reportagens colhidas principalmente na Internet, gerando produções de baixo custo e facilmente acessíveis através da rede mundial. O próprio Mazzucco, diga-se de passagem, mantém desde 2003 um site dedicado ao tema 9/11: www.luogocomune.net.
Todos estes filmes mostram de maneira irrefutável o caráter falacioso da versão oficial do que teria ocorrido naquele dia. Assim, a tese sustentada por Mazzucco, a de um ataque auto-infligido e patrocinado diretamente pelo governo norte-americano, que contou com a poderosa sustentação da mídia local e por conseqüência da mídia global, já foi bastante explorada, alcançando o consenso, senão da participação direta do governo americano pelo menos da insustentabilidade da versão defendida pela Casa Branca.
A análise desenvolvida neste documentário ganha sua verdadeira força quando incorpora uma reflexão histórica ao afirmar que a implosão das torres seria resultado indireto de um plano neoconservador inspirado na obra de Leo Strauss, mentor da famosa escola de Chigaco. Trata-se do “Projeto para o Novo Século Americano” (PNAC do inglês, “Project for the New American Century”), que dá título ao filme. O referido documento remontaria aos primeiros avanços “neocons” durante os anos 70, tendo sido encabeçado por figuras de destaque no governo norte-americano há pelo menos 30 anos como Paul Wolfowitz, Dick Cheney e Donald Rumsfeld, mas que só conseguiram total influência na condução dos negócios de Estado sob a administração de Bush filho.
Contudo, se essa reflexão é a força do documentário, é também o seu ponto fraco. Contra o próprio filme, que passa em revista todo o século americano, com declarações de Mcnamara e Eisenhower, entre outros, não parece plausível creditar os avanços bélicos recentes a uma seleta “turma do mal”, um governo dentro do governo, que fez gato e sapato de um presidente que oscila entre a omissão e a conivência, para por em prática um plano diabólico.
Sem dúvida a tentação de proceder deste modo é grande. O caso da empresa Halliburton ― analisado detalhadamente no documentário “Iraq for Sale” de Robert Greenwald ― principal beneficiária da guerra do Iraque que pertence ao vice-presidente da administração Bush, Dick Cheney, que o diga. Mas, contra as tentações de narrativas do bem contra o mal, que tendem a esvaziar o campo da política, cujo ápice foram as últimas eleições presidenciais com a nomeação de Obama como porta-voz da esperança e da mudança, surgem as imagens do documentário. Eis ali não uma comunidade política organizada em um Estado, mas sim um complexo industrial-militar que une guerra e sociedade de consumo cujo investimento é cobrado globalmente.
Este complexo industrial-militar trabalhou, nos último cinqüenta anos, pelo menos, seja no governo republicano ou democrata, na inversão da famosa definição de Clausewitz. O estrategista da guerra vinculado à fase liberal da expansão do capitalismo do início do século XIX, podia afirmar que “a guerra é a continuação da política por outros meios”, já a nossa geração, como as imagens veiculadas no documentário de Massucco não cansam de demonstrar, está diante da “política como mera continuação da guerra”. A história desta inversão, que é a história do século XX, ainda está para ser contada, e o documentário de Massucco é uma grande contribuição neste sentido.
Tiago Machado de Jesus é aluno de pós-graduação em História.
Todos estes filmes mostram de maneira irrefutável o caráter falacioso da versão oficial do que teria ocorrido naquele dia. Assim, a tese sustentada por Mazzucco, a de um ataque auto-infligido e patrocinado diretamente pelo governo norte-americano, que contou com a poderosa sustentação da mídia local e por conseqüência da mídia global, já foi bastante explorada, alcançando o consenso, senão da participação direta do governo americano pelo menos da insustentabilidade da versão defendida pela Casa Branca.
A análise desenvolvida neste documentário ganha sua verdadeira força quando incorpora uma reflexão histórica ao afirmar que a implosão das torres seria resultado indireto de um plano neoconservador inspirado na obra de Leo Strauss, mentor da famosa escola de Chigaco. Trata-se do “Projeto para o Novo Século Americano” (PNAC do inglês, “Project for the New American Century”), que dá título ao filme. O referido documento remontaria aos primeiros avanços “neocons” durante os anos 70, tendo sido encabeçado por figuras de destaque no governo norte-americano há pelo menos 30 anos como Paul Wolfowitz, Dick Cheney e Donald Rumsfeld, mas que só conseguiram total influência na condução dos negócios de Estado sob a administração de Bush filho.
Contudo, se essa reflexão é a força do documentário, é também o seu ponto fraco. Contra o próprio filme, que passa em revista todo o século americano, com declarações de Mcnamara e Eisenhower, entre outros, não parece plausível creditar os avanços bélicos recentes a uma seleta “turma do mal”, um governo dentro do governo, que fez gato e sapato de um presidente que oscila entre a omissão e a conivência, para por em prática um plano diabólico.
Sem dúvida a tentação de proceder deste modo é grande. O caso da empresa Halliburton ― analisado detalhadamente no documentário “Iraq for Sale” de Robert Greenwald ― principal beneficiária da guerra do Iraque que pertence ao vice-presidente da administração Bush, Dick Cheney, que o diga. Mas, contra as tentações de narrativas do bem contra o mal, que tendem a esvaziar o campo da política, cujo ápice foram as últimas eleições presidenciais com a nomeação de Obama como porta-voz da esperança e da mudança, surgem as imagens do documentário. Eis ali não uma comunidade política organizada em um Estado, mas sim um complexo industrial-militar que une guerra e sociedade de consumo cujo investimento é cobrado globalmente.
Este complexo industrial-militar trabalhou, nos último cinqüenta anos, pelo menos, seja no governo republicano ou democrata, na inversão da famosa definição de Clausewitz. O estrategista da guerra vinculado à fase liberal da expansão do capitalismo do início do século XIX, podia afirmar que “a guerra é a continuação da política por outros meios”, já a nossa geração, como as imagens veiculadas no documentário de Massucco não cansam de demonstrar, está diante da “política como mera continuação da guerra”. A história desta inversão, que é a história do século XX, ainda está para ser contada, e o documentário de Massucco é uma grande contribuição neste sentido.
Tiago Machado de Jesus é aluno de pós-graduação em História.