segunda-feira, 9 de março de 2009

Eu, professor?

Por Taís Araújo

Quantas vezes ao responder para alguém a faculdade que escolheu prestar você não ouve a seguinte indagação num tom que beira à misericórdia: “ah, mas você vai ser professor?”. Entrar no curso de história parece, para muitas pessoas, estar fadado ao fracasso. Mas não se deixe desanimar!!! O historiador e o professor de história podem cumprir um importante papel na sua sociedade ao realizarem um trabalho que parece fácil à primeira vista: pensar a sociedade em que vivem e transmitir conhecimento, mas que é bem mais complexo do que se imagina.
Aqui na USP, além de professor, podemos exercer as atividades de pesquisa na academia. As pesquisas são um funil, quer dizer, além de toda a barra que enfrentamos no vestibular ainda temos que enfrentar a concorrência e a falta de vagas na hora de pleitearmos uma vaga como pesquisadores. Isso acontece em grande parte por causa do repasse desigual de verbas dentro da universidade. A FFLCH recebe menos dinheiro que outras faculdades, mais voltadas ao mercado e ao interesse das empresas privadas, como as ligadas às ciências exatas. Desse jeito, há menos bolsas de iniciação científica para os alunos daqui do que de outros cursos, assim como menos bolsas de mestrado e doutorado.
Pelo caráter anti-democrático do acesso à pesquisa acadêmica, a maioria dos estudantes de história tornam-se professor, mas esse fato não deve ser encarado com desespero. Ser professor significa transmitir conhecimento crítico, ajudar a expandir o mundo de muitos jovens, impulsionar o sentimento de mudança em muitas pessoas cuja esperança desapareceu a tempos. Estudar as sociedades do passado pode nos ajudar a conhecer outras maneiras de viver que não a atual, que se mostra perversa e difícil para a maioria das pessoas. A memória tem assim um papel transformador quando nos lembra de que nem sempre o mundo foi do jeito que conhecemos. Ajuda-nos a desconstruir discursos e enxergar mais a fundo o mundo ao redor. O conhecimento do funcionamento da sociedade é o primeiro passo para sua transformação.
Ao mesmo tempo, o professor depara-se com uma realidade bastante complicada na rede pública de ensino. São salas superlotadas, falta de laboratórios e de materiais, bibliotecas precárias, violência dentro das escolas, falta de merenda para os alunos, além dos baixos salários, da pesada carga horária que tem que cumprir e da formação incompleta.
Há uma desvalorização imensa do papel do professor, que, num mundo de valores individualistas em que tudo pode ser comprado e vendido, tem o potencial de pensar num outro mundo que não seja movido pelo lucro e pelo dinheiro.
Os desafios são muitos e por isso mesmo que temos que começar a pensá-los agora na graduação enquanto nos formamos e vivemos no espaço acadêmico. Para superar a crise da escola, os primeiros passos são inserir seus problemas dentro do mundo universitário. Assim como se envolver na luta política ao lado dos professores e estudantes da rede pública, reivindicando melhores condições de ensino nas escolas.

Taís é aluna do quarto ano de História